“Até na Cueca”
O ATRASO DO BRASIL
Por MAERLE FERREIRA LIMA
O Brasil, terra do famigerado “jeitinho” e da desobediência às normas e regras sociais, é desgovernado, desorganizado, desorientado, ineficiente, iletrado, corrupto, violento, paternalista, e, mesmo assim, muita gente ainda acha que “Deus é brasileiro” e que somos o “País do futuro”, aliás, um futuro que nunca chega.
As energias do país estão muito mais concentradas em futebol; carnaval; festas; religião; nos programas de mau gosto tipo “Big Brother Brasil” e nos dramas que são retratados todos os dias nas novelas da TV Globo. Dessa forma, não existe qualquer movimento que indique a direção de um grande projeto de Nação sério e de uma verdadeira inclusão social dos pobres.
Sobre a questão da pobreza nacional, convém fazer uma rápida referência ao “Programa Bolsa Família”. Em verdade, o nome inicial era: “Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima”. Pois bem, ele surgiu em São Paulo, em 1995, no Município de Campinas, por iniciativa do então Prefeito daquela localidade, José Roberto Magalhães Teixeira, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Naquele mesmo ano, ele foi implementado no Distrito Federal pelo então Governador e atual Senador, Cristovam Buarque, e recebeu o nome de “Bolsa Escola”. Em 2001, ele foi adotado pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Em 2003, no Governo do ex-Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi rebatizado e passou a se chamar: “Programa Bolsa Família”. No mês de outubro passado, o Partido dos Trabalhadores (PT) comemorou, em tom de campanha eleitoral, um decênio do seu nascimento, como se ele tivesse surgido em outubro de 2003. Haja paternidade!
Inegavelmente, ao longo desses últimos dezoito anos, não podemos deixar de reconhecer que o referido “Programa de Assistência Social”, criado com fim meramente eleitoral, foi importante para aliviar o panorama da miséria em nosso país. No entanto, é preciso dizer, igualmente, que a iniciativa promove inclusão social e transferência de renda pela metade. Ela ainda não ajuda os beneficiários a se libertarem da “doação” e não prepara ninguém para o mercado de trabalho.
Apesar de tudo, penso que uma questão importante poderia ser colocada para reflexão:
O Brasil reúne alguma condição para se tornar, no médio prazo, uma grande potência, com reconhecido peso político no cenário regional e internacional, a exemplo da China, e dividir as responsabilidades geopolíticas no continente americano com os Estados Unidos?
Realmente, não sei se isso seria possível em uma ou duas gerações, haja vista as nossas atuais limitações históricas, políticas, institucionais, educacionais, culturais, econômicas, sociais, científicas e tecnológicas.
A maioria das elites dirigentes brasileiras não dedica qualquer atenção ao futuro do país, não consegue enxergar além dos interesses pessoais espúrios, é provinciana, imoral, despreparada, imediatista e corrupta.
Desde os tempos coloniais, essa “banda podre” tem conseguido infelicitar o país e contaminar quase toda a sociedade. Hoje, o resultado é que grande parte do Brasil tem uma vocação irresistível para a desorganização, para a corrupção e sofre de uma falta endêmica de caráter. Infelizmente, pouca coisa tem sido feita até agora para mudar tal situação. Talvez, com o avanço das pesquisas sobre o Código Genético (Genoma), possamos, nos próximos anos, corrigir o erro que carregamos em nosso Ácido Desoxirribonucleico (DNA).
Sem dúvida, essa doença que parece incurável, tem barrado nossas pretensões de ocupar um lugar entre as nações que decidem os destinos do mundo. Escândalos existem nos Estados Unidos, no Japão, na Alemanha, na França ou na Inglaterra. A grande diferença é que, no Brasil, eles acontecem a cada minuto e ninguém é punido.
O maior exemplo desse desvio de comportamento começa com o total descaso com a construção do país. Projetos nacionais de grande impacto social são mal elaborados e demoram meses e até anos para serem aprovados porque têm de enfrentar uma burocracia infernal. Quando são autorizados, os empreendimentos são feitos com materiais de péssima qualidade para se desgastarem logo. Assim, com os reparos intermináveis que precisam ser feitos, as empreiteiras redimensionam seus lucros. Geralmente, esses consertos dispendiosos causam enormes prejuízos aos cofres públicos.
Qualquer obra pública em nosso país começa errada e termina errada. O superfaturamento é praticado como se fosse um procedimento normal, os calendários não são cumpridos, os custos são alterados várias vezes para alimentar a corrupção, o dinheiro desaparece misteriosamente, muitas obras são abandonadas e outras sequer são entregues.
Em suma, é uma verdadeira anarquia às custas do erário público e do povo, que é obrigado a pagar ao Governo, uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Acho que o Brasil é um dos poucos países onde corruptos viram heróis e santos, roubam e não vão presos, são consagrados nas eleições e se popularizam nas “marchinhas de carnaval”.
Assim, a malversação do dinheiro público vira “galhofa”, os ladrões nunca devolvem o que roubam do contribuinte, são cínicos e mentirosos, juram inocência todas as vezes que são denunciados, contam com a impunidade, com intermináveis recursos na Justiça para não serem presos e se eternizam nos gabinetes refrigerados do poder. Em nosso país, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário estão completamente contaminados pela corrupção que já se alastrou por toda a sociedade. Dessa maneira, a corrupção pública e privada no Brasil é assustadora.
Levantamento feito pelo “Instituto Avante Brasil”, baseado em dados do “Relatório da Corrupção”, publicado pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), em 2010, mostrou que, naquele ano, o custo médio da corrupção brasileira foi estimado entre 50,8 bilhões de reais e mais de 84,4 bilhões de reais por ano.
Segundo o referido Instituto, com essa enorme quantia, o país seria capaz de acabar totalmente com a miséria em pouco anos e arcar com o custo anual de milhares de alunos das séries iniciais do ensino fundamental, segundo os parâmetros do Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQI), desenvolvido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Poderia ainda: equipar e prover o material para 129 mil escolas das séries iniciais do ensino fundamental, com capacidade para 600 alunos, segundo o modelo CAQI; construir 57 mil e 600 escolas para séries iniciais do ensino fundamental, segundo o modelo CAQI; comprar mais de 200 milhões de bolsas família em seu valor máximo; estender o saneamento básico para mais de 20 milhões de habitações; e garantir a construção de centenas de aeroportos de porte médio; de milhares de quilômetros de ferrovias e rodovias; a melhoria de portos; entre outras obras de infra-estrutura que são vitais para o funcionamento do país.
Em seu Relatório, a FIESP estimou que, entre 2000 e 2010, foram desviados 720 bilhões de reais dos cofres públicos brasileiros, ou seja, aproximadamente, 316 bilhões de dólares. Nesse mesmo período, a Controladoria Geral da União (CGU) examinou 15 mil contratos firmados entre a União, Estados, Municípios e Organizações Não-Governamentais (ONGs) e encontrou irregularidades em 80% desses protocolos.
Nas condições atuais, combater a corrupção no Brasil, prender os ladrões e confiscar os seus bens, é como enxugar gelo, você não conseguirá nunca.
Enquanto as instituições forem frágeis, o Estado continuar refém de marginais engravatados e políticos desonestos, o povo continuar sendo insultado, a burocracia emperrar a vida econômica e social e o Judiciário garantir a existência da rede de corrupção, o Brasil não será visto como um país sério, permanecerá na periferia do desenvolvimento e entre as nações mais corruptas do mundo. É isso o que eu penso.
MAERLE FERREIRA LIMA
12 DE NOVEMBRO DE 2013