“AS ATUAIS TENSÕES POLÍTICAS E MILITARES NA
UCRÂNIA
O território da Ucrânia começou a ser habitado há mais de 40 mil anos e é uma terra marcada por tragédias. Durante séculos, o país foi invadido e saqueado pelos mongóis, lituanos, rutenos, poloneses, tártaros e outros povos. Depois, vieram os russos, o comunismo, a sangrenta ocupação nazista durante a 2ª Guerra Mundial, a fome e a opressão.
Apesar da crise que atravessa, a Ucrânia é um país importante para as grandes potências. Sob o ponto de vista estratégico, desperta grandes interesses, principalmente para a Rússia, para os Estados Unidos e para a União Europeia (UE). Para a UE é a porta de entrada do Oriente e para a Rússia, a porta de saída para o Ocidente.
Sua população aproxima-se dos 45 milhões. É o segundo maior país da Europa e o seu território tem mais de 600 mil quilômetros quadrados.
Apesar do seu potencial econômico e de sua capacidade agrícola, o país está quebrado, a economia está em frangalhos e precisa urgentemente de uma ajuda inicial de 19 bilhões de dólares, para não decretar falência. Segundo os especialistas, para sair do buraco, a conta seria bem maior, ou seja, 35 bilhões de dólares.
O problema é que ninguém quer doar 19 bilhões de dólares emergenciais para socorrer a Ucrânia. A Europa não pode porque também está quebrada, o Presidente Barak Obama nunca conseguiria tal liberação do Congresso americano e as grandes empresas dos países ricos que têm investimentos naquela região, também não querem nem ouvir falar nessa história.
A Ucrânia não é um país homogêneo. Isso se mostrou claramente desde o final da “Guerra Fria”, quando houve a dissolução da União Soviética.
Uma parte é ocidentalizada, defende a associação do país com a UE e é representada pelo atual governo interino do Primeiro Ministro, Arseniy Yatsenyuk, e pelos manifestantes que continuam agitados nas ruas de várias cidades do país e de Kiev, a capital. A outra parte, mantém fortes ligações históricas, políticas, culturais e econômicas com a Rússia e com o governo do Presidente russo, Vladimir Putin.
Vale ressaltar que, em 28 de novembro de 2013, o governo ucraniano, representado pelo então Presidente, Viktor Yanukovich, aliado da Rússia, rejeitou o acordo de associação com a UE. Em troca, recebeu do governo Putin, a “promessa” de uma ajuda de 15 bilhões de dólares e de uma redução do preço do gás importado dos russos. Em verdade, não sei mesmo como o Wladimir Putin poderia cumprir com os compromissos e, muito menos, arrumar 15 bilhões de dólares! A economia da Rússia também não anda lá muito bem.
Esse foi o principal motivo que gerou a crise que hoje ocupa os principais espaços no noticiário internacional. A partir daí, as tensões começaram, os manifestantes tomaram as ruas e mais de 100 pessoas foram mortas.
Em 22 de fevereiro de 2014, o Palácio Presidencial e outros prédios governamentais foram ocupados pelos manifestantes. O mesmo aconteceu com o Parlamento e o Presidente Yanukovich fugiu da capital, Kiev. Um governo interino foi montado, um Primeiro-Ministro foi indicado, Arseniy Yatsenyuk, e foram convocadas eleições para maio de 2014.
Ao mesmo tempo, nas regiões leste e sul do país, especialmente na Crimeia, o povo foi às ruas para protestar contra a deposição do Presidente Yanukovich. Os russos, também insatisfeitos, e com fortes interesses no país, intervieram militarmente na Crimeia.
A Crimeia, antiga parte do “Império Russo” e, depois, da antiga “União Soviética”, é hoje uma “República Autônoma” da Ucrânia. O território foi dado de “presente” à Ucrânia, em 1954, pelo Premier Soviético de então, Nikita Khrushchov.
A maioria da população é de origem russa e tem preferência por uma aproximação com Moscou. Na cidade portuária de Sebastopol, a Rússia mantém uma importante base militar. Ali está ancorada a “Frota Russa do Mar Negro”.
No dia 1º de março de 2014, o Parlamento russo autorizou o uso da força militar naquela parte da Ucrânia, alegando a “necessidade de manutenção da paz” e para proteger os interesses de cidadãos russos. Indignados, os Estados Unidos responderam. O Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que a Rússia poderá perder seu lugar na mesa das grandes potências, o G8 e poderá sofrer outras retaliações dos Estados Unidos e de seus aliados da UE.
Na quinta-feira, dia 06 de março de 2014, o Parlamento da Crimeia decidiu por unanimidade fazer parte da Rússia e anunciou um referendo para validar a moção, no próximo dia 16 de março.
Mais de 96% dos eleitores votaram favoravelmente à reunificação com a Rússia.
No dia 17 de março, os 85 deputados do Parlamento Regional proclamaram a separação e decretaram a nacionalização de todos os bens do Estado da Ucrânia em território da Crimeia. Ao mesmo tempo, enviaram uma solicitação de reconhecimento como Estado Independente às Nações Unidas e à Federação Russa.
O Presidente russo Wladimir Putin acatou de imediato a integração da Crimeia à Federação Russa.
O que vai acontecer naquela região nos próximos dias, nas próximas semanas e nos próximos meses, dependerá, certamente, das longas negociações entre as grandes potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, com a Rússia de Wladimir Putin.
Brasília, 17 de março de 2014
Maerle Ferreira Lima