ANALFABETISMO DE ADULTOS NO BRASIL

 

No dia 29 de janeiro de 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), divulgou o seu 11º Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, e o Brasil apareceu em posição vergonhosa.

Durante o Fórum Mundial de Educação, realizado no ano 2000, 164 países, entre os quais o Brasil, 35 instituições internacionais e 127 Organizações não Governamentais (ONGs), adotaram o “Marco de Ação de Dacar”, em que se comprometeram a dedicar recursos e esforços necessários para melhorar a educação até 2015.

Apesar do compromisso assumido por essas nações, é importante dizer que, faltando apenas um ano para terminar o prazo, somente 41 países atingirão a meta. Como era de se esperar, o Brasil não faz parte dessa lista.

O Relatório mostra que o nosso país e mais 10, concentram três quartos de todos os analfabetos adultos do mundo, estimados em 774 milhões de adultos, com 15 anos e mais, que não sabem ler nem escrever.

Segundo a UNESCO, 72% desses infelizes estão em apenas 11 países e o Brasil faz parte dessa equipe desgraçada. Graças ao descaso dos nossos governantes, a maioria constituída de corruptos e irresponsáveis, estamos em 8º lugar e formamos uma “bela seleção” da vergonha, juntamente com a Índia, China, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Indonésia, Egito, Irã  e República Democrática do Congo.

Por outro lado, a instituição avalia que a qualidade do ensino básico brasileiro é deficiente, os recursos são mal distribuídos, os professores são mal remunerados e mal preparados.

A respeito da remuneração mínima dos professores do ensino médio brasileiro, que cumprem uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, convém destacar que, no mesmo dia em que foi divulgado o Relatório da Unesco ao qual faço referência, o Ministério da Educação  (MEC) anunciou o reajuste do piso salarial para essa categoria.

O valor, que é reajustado anualmente como determina a Lei do Piso, Lei nº 11.738, de 2008, foi corrigido em 8,32%, o que significou um piso salarial de R$ 1.697,00. A entidade representativa dos professores protestou, mas o Governo manteve sua posição.

Segundo o Ministério da Educação, a correção refletiu a variação ocorrida no valor anual mínimo por aluno, definido nacionalmente no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) do ano passado, em relação ao piso de 2012.

Nos últimos cinco anos, a evolução do piso salarial mostrou a seguinte variação: passou de R$ 950,00, em 2009, para R$ 1.024,67, em 2010; R$ 1.187,14, em 2011; R$ 1.451,00, em 2012; R$ 1.567,00, em 2013; R$ 1.697,00, a partir de fevereiro de 2014. O maior aumento verificado no período, ocorreu em 2012, quando o reajuste representou 22,22%.

Como podemos verificar trata-se de um piso salarial simplesmente ridículo e, mesmo assim, pelo país afora, milhares de professores penam para receber esse minguado salário e muitos aceitam dar aulas por muito menos.

Em face dessa realidade prejudicial para o futuro do país, a pergunta que deve ser feita é a seguinte: como pode um professor do ensino médio brasileiro, sobreviver dignamente, ter motivação para exercer a profissão e desempenhar corretamente a sua função, com um salário miserável como esse? Simplesmente, não é possível! O resultado é um ensino deficiente,  professores com baixa qualificação e alunos que não aprendem nada na escola.

Para agravar ainda mais a situação, o financiamento do ensino está muito abaixo do que seria necessário para melhorar as condições atuais. O valor do investimento per capita no ensino fundamental no Brasil é de apenas 2 mil 778 dólares. Enquanto isso, entre os 34 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse mesmo investimento é de 7 mil 974 dólares.

De acordo com as estatísticas mais conservadoras, o Brasil tem, hoje, 13 milhões e 200 mil adultos, entre 15 anos ou mais, analfabetos. Inegavelmente, esse é um dado desonroso, que piora ainda mais a péssima imagem que o nosso país tem no exterior.

No entanto, nossa posição fica ainda mais humilhante, se juntarmos a esse contingente de analfabetos absolutos, os chamados “analfabetos funcionais”.

Os “analfabetos funcionais” sabem ler, mas não compreendem o que lêem. Reconhecem números, mas têm conhecimento bastante precário das quatro operações fundamentais.

O conceito foi criado pela UNESCO, em 1978, para se referir às pessoas que, mesmo sabendo ler e escrever algo muito simples, não são capazes de transmitir suas ideias corretamente. No Brasil, o número de “analfabetos funcionais” é assustador.

De acordo com pesquisas que são realizadas pelo Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a ONG “Ação Educativa”, que divulgam anualmente o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF), 75% dos brasileiros são considerados “analfabetos funcionais”.

Dessa maneira, nos levantamentos feitos pelas entidades citadas, 3 em cada 4 brasileiros são considerados “analfabetos funcionais”. Elas estimam que temos 8% de analfabetos absolutos; 30% que lêem mas compreendem muito pouco e 37% que são totalmente incapazes de interpretar qualquer informação.

Segundo as mesmas fontes, apenas 25% dos brasileiros com mais de 15 anos têm pleno domínio das habilidades de leitura e de escrita.

Na Alemanha, a taxa de “analfabetos funcionais” é de 14%. Nos Estados Unidos, é de 21%. Na Inglaterra, 22%. Na Suécia, apenas 7%.

Para concluir, acho que seria interessante fazermos uma reflexão sobre uma última questão: a quem interessa esse estado de ignorância crônica, de alienação e de burrice que caracteriza a maioria de nossa população? Sem dúvida alguma, basicamente, aos “falsos profetas”, que manipulam e exploram essa massa inculta e prometem, para ela, absolvição dos pecados e “salvação da alma no reino do céu”; aos políticos corruptos que querem se eternizar no poder às custas da mentira, de negociatas degradantes e da compra de votos dos eleitores alienados; aos meios de informação do sistema, que direcionam a consciência do povo ignorante para futebol, religião, carnaval, novelas e outras coisas fúteis, e aos agentes econômicos desonestos, que  aumentam suas fortunas sugando o último centavo dos indefesos.

Infelizmente, é esse o Brasil que temos, um país totalmente governado por uma elite corrupta e imoral, que se sucede no poder desde 1500, ou seja, desde os primórdios de nossa formação, de péssimo caráter, que se beneficia, de maneira desumana, do atraso e da desgraça que ela mesma cria e reproduz.