Posted on 10 de dezembro de 2013 in Análises

MORTE NO TRÂNSITO

                MORTE NO TRÂNSITO

 

POR MAERLE FERREIRA LIMA

 

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a proclamar o período de 2011 a 2020, como a “Década de Ação pela Segurança no Trânsito”, com o objetivo de reduzir o número de desastres em nível mundial.

As estatísticas apresentadas pela OMS chocaram o mundo e mostraram que as ruas e as vias viraram locais onde a morte está presente a todo momento.

Segundo aquela entidade, só no ano de 2009, aconteceram mais de 1 milhão e 300 mil perdas de vidas por acidentes de trânsito em 178 países. Naquela ocasião, a OMS advertiu que, se nenhuma providência fosse tomada, chegaríamos no ano de 2020, com cerca de 2 milhões de mortos e, em 2030, com 2 milhões e 400 mil mortos. A quantidade de traumatizados, feridos graves e inválidos, ficaria entre 20 milhões e 50 milhões.

Para a OMS, os acidentes de trânsito representam a 3ª causa de mortes na faixa de 30-44 anos; a 2ª na faixa de 5-14 anos e a 1ª na faixa de 15-29 anos. Atualmente, os acidentes de trânsito são responsáveis globalmente por um custo superior a 500 bilhões de dólares por ano.

De acordo com o “Mapa da Violência 2012 – Caderno Complementar 2: Acidentes de Trânsito”, sob a responsabilidade do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, apresentado em abril de 2012, pelo Instituto Sangari, a violência no trânsito é uma das maiores  tragédias brasileiras. Mais de 41 mil pessoas morrem por ano no Brasil, em acidentes violentos do tráfego.

Entre 1996 e 2010, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e do Sistema de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde (MS), foram registradas 518 mil e 500 mortes nos diversos tipos de acidentes de trânsito ocorridos no País. É importante destacar que, para chegar ao  resultado, o SIM  utilizou dados preliminares de 2010, que foram atualizados pelo MS.

Assim, com esse esclarecimento, o SIM estimou em 40 mil 989, o total de mortes no trânsito brasileiro, em 2010. Por outro lado, se observarmos o comportamento das taxas referentes a esse tipo de letalidade ocorrido entre 1996 e 2010, vamos notar que, durante esses 14 anos, não houve diminuição significativa do percentual das ocorrências.  A menor taxa de mortalidade registrada durante o período a que fazemos referência, foi  em 2000, 17,1 para cada 100 mil habitantes. Em contrapartida, em 2010, a taxa de mortalidade estimada foi de 21,5 em cada 100 mil habitantes.

 De acordo com o documento apresentado pelo Instituto Sangari, se a taxa de mortalidade no trânsito continuar acompanhando o ritmo  verificado entre 1996 e 2010, até o final de 2015, as mortes no trânsito poderão ultrapassar os homicídios. O Instituto mostrou que a taxa de homicídios se situa em torno de 26 casos para cada 100 mil habitantes, com quase  50 mil assassinatos por ano.

Na última década, o número de mortes no trânsito passou de 28 mil 995, para os estimados 40 mil 989, apresentando uma variação de 41,4% entre 2000 e 2010. Ao mesmo tempo, após análise dos registros do SIM, constatou-se uma mudança significativa na estrutura e composição dos acidentes.

Como mostra o Instituto Sangari, durante a última década, verificou-se que a mortalidade de pedestres sofreu significativas baixas; a dos ocupantes de automóveis permaneceu estável; a dos ciclistas aumentou um pouco; e a dos motociclistas disparou. Entre 2000 e 2010, a mortalidade de motociclistas aumentou 244%, representando praticamente 1/3 de todas as  mortes no trânsito.

Em 2000, o trânsito matou 13 mil 643 pedestres; 1 mil 238 ciclistas; 8 mil 262 automobilistas; 1 mil e 42 caminhoneiros e 3 mil 910 motociclistas. Em 2010, com dados preliminares, 11 mil 946 pedestres foram mortos no trânsito, juntamente com 1 mil 909 ciclistas; 11 mil 405 automobilistas; 1 mil 404 caminhoneiros e 13 mil 452 motociclistas.

Como podemos verificar, entre 2000 e 2010, os acidentes mortais envolvendo motociclistas passaram de 3 mil 910 para 13 mil 452, o que significou, segundo o Instituto Sangari, um aumento de 846,5% no período. Por outro lado, entre 1996 e 2010, a participação percentual dos motociclistas no total de óbitos em acidentes de trânsito, em todas as categorias, foi de 714,7%. Em segundo lugar ficaram os ciclistas, com um percentual de 165%. Em terceiro lugar os caminhoneiros, com 56,8%. Os automobilistas representaram 36,6% e os pedestres tiveram uma queda de -58,3%.

No que se refere às taxas de óbitos em cada grupo de 100 mil habitantes, por categoria, no período 1996/2010, a participação dos pedestres foi de -60,1%. Os ciclistas apareceram com 153,5%; os automobilistas, com 30,6%; os caminhoneiros, com 50,0% e os motociclistas com 679,4%, o que é uma verdadeira tragédia. Para o Instituto Sangari, sem dúvida alguma, as motocicletas são as principais causadoras da violência cotidiana no trânsito.

Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), comentados pelo sociólogo Julio Jacobo, em 1970, para uma frota de 2 milhões e 600 mil veículos, existiam apenas 62 mil 459 motocicletas, ou seja, 2,4%  do total de veículos registrados. No ano 2000, já existiam 4 milhões de motos, que representavam 13,6% de toda a frota em circulação. Em 2010, o parque de motos pulou para 16 milhões  509 mil, representando 25,5% do total de veículos do País, que era de 64 milhões 817 mil 974.

Para finalizar, é importante dizer que o nosso País, mais uma vez, apareceu de maneira humilhante nas estatísticas internacionais.  Pelos dados da OMS sobre mortes violentas no trânsito, ocorridas em 87 países, aparecemos na sexta posição (2010), como um dos maiores  cemitérios mundiais de mortos em acidentes de trânsito. Para maior vergonha, estávamos em companhia de cinco países atrasados. Pela ordem: Qatar; El Salvador; Belize; Venezuela e Guiana.

No que se refere às mortes por acidentes de moto em 67 países, ficamos em posição mais indigna ainda. Aparecemos em segundo lugar (dados de 2010), abaixo do Paraguai e seguido pela Tailândia, que conquistou a terceira posição.

Por tudo o que foi dito neste texto, não dá  mais para conviver com tanta desgraça, com tanta vergonha e com tanto descaso por parte das autoridades. Os governantes brasileiros e os responsáveis pelo trânsito do País, precisam definir uma ação concreta para diminuir os números dessa tragédia. Pelo menos isso eles têm a obrigação de fazer!

 

BRASÍLIA, 12 DE NOVEMBRO DE 2013

MAERLE FERREIRA LIMA


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